Luto e Luta no 1º de dezembro. Rodrigo Pinheiro é Presidente do Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo

Luto e Luta no 1º de dezembro. Rodrigo Pinheiro é Presidente do Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo

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Por Rodrigo Pinheiro

Mais uma vez o final de ano se aproxima e, antes das datas festivas de Natal e Réveillon, o calendário indica o Dia Mundial de Luta contra Aids, no 1º de dezembro. Desde 1987, quando a Assembleia das Nações Unidas adotou a data, sucessivas ações em todo o mundo chamam a atenção para a questão da aids e seu reflexo em toda a sociedade. Erroneamente alguns se referem a este dia como “comemoração”, esquecendo a dor e o preconceito que as pessoas que vivem com HIV e aids, suas famílias e amigos sofrem.

O ativismo tem tentado marcar esta data com mobilizações e protestos por uma saúde pública mais eficiente e por uma sociedade mais respeitosa e inclusiva.

Depois de anos de destaque e prioridades para esta doença, o que temos observado é um desinteresse crescente no tema, e isto tem se refletido não apenas nas abordagens na cobertura da mídia, mas fundamentalmente nas ações de governo. Junto a esta queda de visibilidade cresce o número de pessoas infectadas, vivendo na pobreza, na exclusão, tornando-se alvo de todas as formas de vulnerabilidade.

Justamente quando os mais necessitados sofrem e precisam de ações efetivas, as dificuldades burocráticas e a falta de prioridade política acabam por afetá-los, esquecendo-os ou relegando-os a margem de um atendimento de qualidade.

O ano de 2013 entrará para a história como um dos mais difíceis e que exigiram maior mobilização para a garantia mínima dos direitos humanos das populações vulneráveis. Enfrentamos censuras de campanhas, ameaças de internações compulsórias como medidas maquiadoras; encaramos quase dois meses com o principal órgão de execução da política pública de aids quase acéfalo, enfrentamos autoritarismos, falta de diálogo e,  recentemente, o risco de inchamento da Atenção Básica com a transferência de pacientes com aids do serviço especializado.

A cada uma destas barreiras o ativismo se fez presente, se reinventando e criando alternativas de enfrentamento e mobilização. Voltamos, recentemente, a participar das instâncias de decisão governamental, mas estamos atentos à qualidade do diálogo, não aceitando papel secundário em decisões que nos afetem diretamente. Da mesma forma, o Movimento Brasileiro de Luta Contra a Aids, capitaneado pela Articulação Nacional de Luta Contra Aids, segue acompanhando criticamente a política implantada pelos governos atuais, tanto no nível federal, como nos estados e municípios.

Nesta data, nosso luto é pelas vítimas da omissão do estado, mas também é pela pobreza de políticas sociais e pelo descaso com direitos humanos que tem levado a aumento no número de infectados e mortos. Mas não ficamos apenas no lamento. É nessa hora de dificuldades que a chama da militância precisa se manter acesa, cobrando quem tem responsabilidade e pressionando quem se omite.

O luto e a luta desse dia nos fazem refletir e nos renova, desafiando governos de passagens, ocupantes temporários do poder e exigindo compromissos sérios do estado com a saúde pública, um direito de todos.

Rodrigo Pinheiro é presidente do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo e secretário político da Articulação Nacional de Luta contra Aids