Mais preparados para o enfrentamento das DST/aids, participantes elogiam Congressos em Salvador

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Mais preparados para o enfrentamento das DST/aids, participantes elogiam Congressos em Salvador

CONGRESSO DST SALVADOR
21/08/2013 – 18h

Com a participação de cerca de 1700 pessoas e a apresentação de mais de 700 trabalhos científicos terminaram nesta quarta-feira, 21 de agosto, em Salvador, o XI Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e o V Congresso Brasileiro de Aids.

Desde o último domingo, 18 de agosto, foram discutidos temas como atendimento e prevenção às vítimas de violência sexual, direitos humanos, racismo, direitos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), das populações confinadas, além de apresentações sobre doenças sexualmente transmissíveis como a clamídia, a gonorréia, o HPV e a sífilis.

Na mesa de encerramento, os organizadores agradeceram a presença de todos os convidados e pediram que a luta contra as DSTs continue. Os organizadores também aproveitaram a oportunidade para divulgar a próxima edição dos Congressos, que vão ocorrer em 2015, em São Paulo.

“Saibam que saímos daqui com muitas lições aprendidas e que serão utilizadas nas respostas contra a aids e as outras DSTs. É uma honra para o Departamento ser parceiro de iniciativas como esta”, disse o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita.

Durante a última plenária, 13 dos 768 trabalhos científicos apresentados no Congresso foram premiados. Os vencedores em cada categoria ganharam, além da menção honrosa, um prêmio simbólico em dinheiro.

Uma das iniciativas do evento, a unidade móvel de testagem levada pelo Programa Estadual de DST/aids de Sergipe testou 76 pessoas para o HIV, sífilis e hepatites B e C, totalizando 228 testes. Destes, três foram positivos para o HIV, um para a sífilis e um para a hepatite C.

Agência de Notícias da Aids perguntou a alguns participantes o que acharam do evento. Leia a seguir:

Diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita: Foi meu primeiro evento científico, como diretor do Departamento. Achei de altíssimo nível, com assuntos discutidos de maneira bastante aberta. Considerei também uma oportunidade muito boa para nós do Departamento expormos nossas propostas e ouvirmos a reação do público.

Coordenador do Programa Estadual de DST/aids de Sergipe, Almir Santana: O evento foi muito bom. Trouxe bastantes questões sobre as DSTs na atenção básica, uma boa abordagem da sífilis congênita, que é um grande desafio nosso. O fato de ter sido no Nordeste também vejo como positivo, pois permitiu uma maior participação dos estados daqui.

Presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Mariângela Freitas da Silveira: Conseguiu cumprir com seus objetivos. É claro que existem pequenas falhas, mas de um modo geral acredito que ele funcionou bem e contemplou as necessidades. A qualidade dos trabalhos apresentados foi boa e um trabalho, por mais simples que seja, só de estimular alguém a pensar e refletir em sua prática, já vale.

Karina Freitas, Enfermeira da atenção básica do município de Ribeirão Preto-SP: Os congressos foram bons. Houve uma grande diversidade de temas e foi muito bem organizado.

Urologista do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids do Estado de São Paulo e membro da Comissão Científica do Congresso, Roberto José Carvalho da Silva: Sou suspeito para falar porque faço parte da organização, mas achei que tudo que participei foi intenso, muito bom. Destaco a participação da doutora Luisa Lina Vila (professora e pesquisadora sobre o HPV), que foi palestrante. Ela ajudou a trazer convidados internacionais.

Presidente do Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo, Rodrigo Pinheiro: Não teve muitas novidades científicas. Ficou evidente a dificuldade de grande parte dos municípios em implementar ações de prevenção ao HIV, enquanto que na esfera nacional há dificuldades na introdução das novas tecnologias contra o HIV.

Funcionária da Secretaria de Saúde da Bahia, Márcia Schmaulb: 
Gostei muito, muito mesmo. Achei as palestras bem interessantes, e vimos novas diretrizes de fato, como essa transferência do atendimento (da aids) para a atenção básica. Eu até sou a favor disso, mas tem que ser feito com muito cuidado. Sou contra, por exemplo, os testes de farmácia, que o Fábio [Mesquita] defendeu. Também achei indelicado o jeito que ele se referiu aos CTAs (como `templos` para testagem). Os serviços especializados são tecnologias importantes que não podem ser desconstruídas de uma hora para outra. Mas no geral a conferência estava boa, os palestrantes foram ótimos.

Técnica da Coordenação de saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Lidiane Gonçalves: O evento não só cumpriu o que eu esperava como foi além das minhas expectativas. Achei que teve uma boa variedade de temas, respeitou uma diversidade regional, étnica, de gênero, de sexualidade, entre outros, e não se apegou apenas aos aspectos biomédicos.

Lucas Bonanno e Nana Soares, de Salvador

A Agência de Notícias da Aids cobre os Congressos diretamente de Salvador com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e o laboratório MSD.

A espera de uma vacina ou microbicida mais eficazes, pesquisadores defendem em Salvador ´leque de estratégias´ de prevenção contra HIV

 

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A espera de uma vacina ou microbicida mais eficazes, pesquisadores defendem em Salvador ´leque de estratégias´ de prevenção contra HIV

20/08/2013 – 14h

__Da esquerda para a direita os pesquisadores Jorge Simão Casseb, Eliana Amaral e Ronaldo Rallal

Muito mais fácil do que elaborar estratégias para o uso constante do preservativo seria a descoberta de um novo tratamento, vacina ou microbicida capaz de prevenir o HIV de uma vez por todas. Por esse motivo, geralmente debates que abordam medidas biomédicas preventivas atraem várias pessoas, mesmo que não haja muitas novidades sobre o assunto.

Nesta terça-feira, 20 de agosto, os pesquisadores Ronaldo Rallal, Eliana Amaral e Jorge Simão Casseb conduziram uma mesa de atualização sobre as tecnologias de prevenção ao HIV, durante o XI Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e V Congresso Brasileiro de Aids, que ocorrem em Salvador.

Ex-coordenador da área de Cuidado e Qualidade de Vida do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Hallal, hoje médico infectologista no hospital da Santa Casa de Porto Alegre, falou sobre o uso de medicamentos antirretrovirais na prevenção do HIV.

Ele citou o início precoce do coquetel antiaids, quando as células de defesa do organismo do paciente tiverem por volta de 500 células por milímetro cúbico de sangue; a terapia pós-exposição, quando uma pessoa tiver uma relação sexual ocasional e desprotegida com outra possivelmente portadora do HIV; e a terapia pré-exposição para populações em constante vulnerabilidade de infecção.

No Brasil, as duas primeiras estratégias já são usadas em casos específicos, enquanto a terceira ainda está sendo analisada pelo governo.

“Todas essas medidas são úteis, mas precisam ser trabalhadas num contexto de prevenção. Para cada grupo populacional, pode ser aplicada uma dessas estratégias, mas, claro, sem nunca nos esquecermos do preservativo”, comentou.

A professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Eliana Amaral atualizou os participantes dos congressos sobre os microbicidas e espermicidas em estudo atualmente no mundo. Ginecologista e obstetra, Eliana se interessou pelo tema em 1989, quando atendeu seu primeiro caso de gestante com HIV.

“O desenvolvimento de um gel ou pomada capaz de prevenir o vírus da aids e a gravidez é imensamente complexo, pois além de ter que obedecer um enorme leque de expectativas das diferentes populações mundiais, precisaria ser tolerável para usar na vagina, em contato com pênis e para pessoas vivendo com HIV… Cada um desses fatores requer vários outros testes”, explicou.

Até o momento, o estudo com melhores resultados para a criação de um microbicida é o CAPRISA, sigla em inglês para Centro de Pesquisas de Aids da África do Sul. O gel contém em sua fórmula 1% do antirretroviral Tenofovir. No total, 889 mulheres sul-africanas sexualmente ativas na faixa-etária entre 18 e 40 anos participaram dos estudos como voluntárias, com o uso do produto, e foram acompanhadas por 30 meses. O gel mostrou uma eficácia média de 39% em todo o grupo estudado, chegando a 54% entre as mulheres que seguiram as orientações à risca.

“Esses resultados já são aceitáveis dentro de um kit de meios de prevenção”, analisa Eliana. “Gosto da ideia de que para a prevenção do HIV é preciso sempre pensar para quem se aplica, onde e como”, acrescentou.

As novidades sobre as vacinas ficaram por conta do professor e pesquisador Jorge Casseb, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo. O palestrante, no entanto, abriu sua exposição afirmando que “não há muitas boas novidades sobre o desenvolvimento de uma vacina”.

Segundo ele, já foram investidos cerca de 826 milhões de dólares em pesquisas para uma vacina preventiva e terapêutica contra a aids, mas assim como ocorre nos estudos por um microbicida, ainda não se obteve nenhum resultado suficientemente bom para que valesse a criação de um produto. “O FDA (órgão federal dos EUA responsável pelo controle de alimentos e medicamento) nunca aprovará uma vacina com eficácia menor que 50%”, comentou.

Casseb destaca como maiores dificuldades para a criação de uma vacina: a complexidade e a diversidade do vírus HIV, problemas éticos e políticos nas pesquisas, e recursos financeiros insuficientes.

“É impossível dizer hoje em quanto tempo teremos uma vacina, mas somos teimosos. Enquanto não for criada uma vacina, dificilmente conseguiremos diminuir o avanço da pandemia. Ela deverá ficar apenas estabilizada”, afirmou.

Para o pesquisador, o desenvolvimento de uma vacina que conseguisse pelo menos 40% de eficácia, associada aos outros meios de prevenção já disponíveis, poderia diminuir em 20% o total de novas infecções de HIV no mundo.

Lucas Bonanno, de Salvador

* A Agência de Notícias da Aids cobre os Congressos diretamente de Salvador com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e o laboratório MSD. 

“Dinheiro colocado em aids não é custo, é investimento”, diz ex-diretor do Departamento de DST/Aids, Dirceu Greco

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“Dinheiro colocado em aids não é custo, é investimento”, diz ex-diretor do Departamento de DST/Aids, Dirceu Greco

20/08/2013 – 16h10

Nesta terça-feira, 20 de agosto, o infectologista e ex-diretor do Departamento de DSTs, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, ministrou a conferência “A resposta à pandemia da aids, direitos humanos e o acesso universal à prevenção, diagnóstico e tratamento: um modelo para saúde pública” durante o XI Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e V Congresso Brasileiro de Aids, que ocorrem em Salvador. Dirceu frisou a necessidade de um Estado laico para uma resposta eficaz contra a aids.

Segundo o infectologista, entre os maiores desafios atuais estão a extensão de todos os direitos para homens que fazem sexo com homens, travestis e profissionais do sexo, populações com taxas mais elevadas de HIV do que a população geral brasileira. Além disso, ele pensa que a escola é o lugar ideal para a prevenção das DSTs e aids, mas que sua execução depende de um Estado laico. “E vocês sabem, todos vimos que tivemos alguns episódios recentes de vetos em materiais educativos”, disse.

Para Dirceu Greco, é fundamental pensar na emancipação de populações mais carentes para pensar em uma resposta de sucesso, tendo em mente que por conta da inequidade social, as pessoas com menor escolaridade e renda estão mais expostas à aids, o que não deve ser esquecido pelos profissionais de saúde.

“Não sendo mais do governo, eu agora posso falar coisas que não podia antes”, brincou ele, dizendo que a resposta brasileira à aids é boa, mas ainda com muitos caminhos para avançar.

Uma ação vista com entusiasmo pelo ex-diretor é o lançamento do antirretroviral 3 em 1, já que ele reduz o custo e facilita a adesão dos pacientes.Segundo ele, era um plano desde a sua gestão, e ele está ansioso por seu lançamento. Dirceu frisou também que os gastos com a prevenção e o tratamento da aids são vantajosos para o governo, que gasta menos em internações e outras áreas. “E dinheiro de aids não é custo, é investimento”, disse.

Mídia

A mídia só lembra de aids no 1° de dezembro e no carnaval, além de ter parado de falar que a aids ainda mata, causando uma certa complacência na população e fazendo crer que o problema está resolvido. Esta é a avaliação de Dirceu Greco e uma das principais críticas feitas por ele sobre a resposta brasileira. “A aids e a resposta a ela não chamam atenção da mídia”, disse.

Desafios

Na lista dos principais desafios futuros para a erradicação ou controle da epidemia, está a realização de ações para as populações mais vulneráveis. “Temos que fazer, sim, com toda a população, mas temos que focar em algumas. O problema é que esse foco traz questões de direitos humanos, pois focar demais faz com que se pense que só aquele grupo tem risco, pode trazer de volta essa ideia e o estigma”, pensa.

Melhorar a qualidade de vida dos pacientes também foi uma meta destacada por Dirceu, que reconheceu a dificuldade de realização desse objetivo, pois os profissionais dos serviços de saúde estão sobrecarregados.

“Quando nós começamos o acesso universal aos medicamentos nós éramos um país com poucos recursos e fizemos mesmo assim. Foi uma decisão política”, disse.

Nana Soares, de Salvador

* A Agência de Notícias da Aids cobre os Congressos diretamente de Salvador com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e o laboratório MSD.