Combate à tuberculose pede luta e envolvimento de todos
* Carlos Basilia
22/03/2016 – O Dia Mundial da Tuberculose, comemorado em 24 de março, é um momento estratégico para chamar a atenção sobre os indicadores epidemiológicos, os determinantes sociais da doença e a necessidade de se combater o estigma, o preconceito e a discriminação aos pacientes. Não é uma data para comemoração, mas uma ocasião de mobilização mundial, nacional, estadual e local. Um dia para buscar envolver todos às esferas de governo e setores da sociedade civil que lutam contra esta enfermidade.
É o marco fundamental de uma campanha permanente ao longo do ano, fator essencial para a intensificação das ações de enfrentamento da doença. Por isso, é necessário divulgar o problema, mobilizar a sociedade e dar visibilidade nacional ao esforço brasileiro de luta contra a tuberculose. Apesar do seu impacto para a saúde pública, a tuberculose não é vista como prioridade pela sociedade brasileira. De acordo com estudo realizado pela UFF (Universidade Federal Fluminense) em 2010, metade da população brasileira (49%) tem pouca ou nenhuma informação sobre a doença.
O Brasil faz parte do grupo dos 22 países de alta carga priorizados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que concentram 80% dos casos de tuberculose no mundo, ocupando a 18ª posição em número absoluto de casos. No país, no período de 2005 a 2014, foram diagnosticados 73 mil casos novos de tuberculose, e em 2013 ocorreram 4.577 óbitos. Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos pelo PNCT (Programa Nacional de Controle da Tuberculose ), o país ainda apresenta uma incidência de 36,6 para 100 mil habitantes.
Quanto aos índices de mortalidade, a incidência é de 44 para 100 mil habitantes. Segundo a OMS, para considerar a tuberculose uma doença sob controle, a taxa de incidência não deve ultrapassar cinco casos em cada 100 mil habitantes.
Apesar de apresentar uma queda nos indicadores de morbimortalidade por TB, o Brasil também não conseguiu atingir a meta de cura de 85% dos casos da doença pactuados com a OMS. Além disso, a tuberculose é produto da desigualdade social.
Atualmente, os grupos sociais mais atingidos pela doença são vítimas de um forte processo de exclusão social: 25% da população com tuberculose no Brasil vive em situação de pobreza e 14% dessas pessoas são beneficiárias do Bolsa-Família. A população privada de liberdade tem 27 vezes mais risco de ter tuberculose que a população em geral, enquanto entre a população em situação de rua o risco chega a ser 44 vezes maior, segundo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância Sanitária de 2015.
O estado do Rio de Janeiro possui a maior incidência de casos no país, 72 em cada 100 mil habitantes. No ano de 2012 foram notificados 14.505 casos em todo o estado, sendo 11.614 novos casos. Cerca de 10% destes são coinfectados com o vírus HIV. A taxa de mortalidade no estado é alta; 739 óbitos apenas em 2012 — atualmente, em todo o estado, a taxa de incidência é de 68,7 para cada 100 mil habitantes, segundo boletim da Secretaria da Saúde do Estado.
A estratégia de erradicação da TB pós-2015 tem por objetivo eliminar a pandemia da doença até 2035. Uma mudança dramática necessita ocorrer nos próximos anos sobre como se combate a TB. Nossas ferramentas atuais usam tecnologia antiga e ultrapassada, com regimes de tratamento longos, complicados e com efeitos colaterais indesejáveis, além de uma vacina que tem 90 anos e não é muito efetiva, e a inexistência de formas de diagnóstico à cabeceira do paciente. Trata-se de uma oportunidade para propor soluções inovadoras de várias maneiras:
- * Atingir os grupos de portadores de TB mais vulneráveis e propor novas formas de administrar tratamento e cuidados aos pacientes.
* Investir em intervenções adequadas ao cenário econômico, geográfico e social.
* Adequar as intervenções às ferramentas de 2015 e propor novas formas de combate à doença com base em tecnologias de informação e comunicação (TIC) e plataformas tecnológicas inovadoras.
* Ampliar o espectro do engajamento dos parceiros na luta contra a TB, envolvendo parceiros não-médicos para incluir o desenvolvimento social, o planejamento urbano e o setor privado.
* Pensar em alternativas inovadoras para administrar tratamento e serviços aos pacientes.
* Os investimentos empregados na prevenção, diagnóstico e tratamento de TB tiveram ligeiro acréscimo desde 2002, porém o gap anual é ainda de US$ 2 milhões, necessários para assegurar uma resposta global à epidemia mundial de TB. Ademais, apesar da criação de novas ferramentas para diagnóstico e tratamento, são necessários maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
http://agenciaaids.com.br/home/ * Carlos Basilia, psicólogo social, coordenador de advocacy, comunicação e mobilização social do Observatório Tuberculose Brasil (ENSP/Fiocruz); secretário executivo da Parceria Brasileira Contra a Tuberculose – Stop TB Brasil e membro da Comissão Aids,TB e Hepatites Virais do Conselho Nacional de Saúde (CIADAIDS/CNS)