Aids cresce entre mulheres e jovens, mas homens adultos são a maioria
Os dados do Ministério da Saúde impressionam e confirmam a tendência nacional da “feminização e juvenização” da epidemia. De acordo com os números do ministério, são 10.384 casos notificados entre jovens do sexo feminino de 13 e 24 anos de idade, desde 1980 até março de 2002. A partir de 2000, as novas ocorrências nessa faixa etária têm sido maiores em mulheres do que em homens. Outro fator que também chama a atenção é a forma de contágio. Segundo dados do Ministério da Saúde, 93,1% dos portadores de HIV contraíram a doença através de relações sexuais.
A dona de casa R.M.M., de 44 anos, portadora do vírus HIV há oito anos, faz parte das estatísticas. Ela contraiu o vírus através de relação sexual com seu companheiro na época . Ela não culpa o parceiro (já falecido) pela contaminação e divide a responsabilidade. “Nós não usamos camisinha. A culpa não foi só dele, mesmo ele tendo a doença. Eu não exigi que utilizasse o preservativo”, contou. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram gastos com preservativos, no ano de 2003, nove milhões de dólares. 300 milhões de unidades foram distribuídas.
Mãe de cinco filhas, a dona de casa luta contra a doença, mas de forma mais “consciente” e “digna”, condenando a banalização da Aids. “A minha maior tristeza é saber que estão banalizando a doença, principalmente entre os jovens. Acham que é fácil conviver com o vírus, só porque existem remédios. Não é bem assim. A camisinha deve fazer parte da vida deles. Sexo sem camisinha, não dá”, ressaltou. R.M.M. toma seis comprimidos por dia. O coquetel causa efeitos colaterais, mas o maior problema, segundo ela, é a depressão e a baixa estima. “É preciso muita força de vontade para não cair. A terapia me ajuda bastante, mas às vezes é muito difícil. Existem certas coisas que acontecem que não dá pra segurar, e aí você desmonta”, ressaltou.
Para o psicólogo e presidente do Grupo Assistencial SOS Vida, Antônio Carlos de Souza Pires, a terapia é fundamental para o tratamento assim como a descoberta precoce da doença. “O trabalho psicológico é importantíssimo, e aliado aos coquetéis o soropositivo tem uma qualidade de vida muito melhor. É importante dizer que o portador do vírus HIV pode exercer qualquer atividade e deve levar uma vida normal, como qualquer outra pessoa”, ressaltou Antônio Carlos.
De acordo com os dados do Programa Municipal DST/Aids, atualmente são 2.128 casos de HIV/Aids cadastrados no município (acumulados entre 1985 e maio de 2011), sendo 70% residentes na cidade e 30% de outros municípios. de acordo com os números do programa, 997 pacientes estão em tratamento. Um dado importante divulgado pelo DST/Aids é a queda no número de óbitos nos últimos anos, principalmente a partir de 1985, após o início do tratameto com os antiretrovirais. Atualmente, a taxa de óbitos é de 40%. “Os médicos brincam que o Programa Nacional da Aids é a prima rica do SUS. Funciona e muito bem. Os remédios são gratuitos e nunca faltam, assim como o tratamento médico, assistencial e psicológico. A única coisa que falta e que ainda não evoluiu é o preconceito que infelizmente ainda causa muita dor”, enfatizou Antônio Carlos.
A dona de casa R.M.M. também reclama do preconceito e relata fatos tristes de intolerância. “Quando as pessoas sabem que você tem Aids ficam com medo de te tocar, de chegar perto. É muito triste”, lamentou. No ano passado, o preconceito foi tema do Dia Mundial de Combate à Aids. Para os especialistas, é preciso investir em campanhas educativas para diminuir o preconceito. Campanhas em escolas e com jovens também devem acontecer neste ano. Segundo o Programa Municipal de DST/Aids, no dia dois de julho será organizado um grande encontro com jovens soropositivos entre os 14 e 29 anos, onde serão discutidos temas como preconceito, adesão ao tratamento, direitos do portador de HIV, relação com o serviço de saúde, namoro e relação na escola.
Redação Tribuna